sábado, 31 de janeiro de 2009

Comece o ano com todo gás

Em todos os anos há muita expectativa para o ano novo. As pessoas se animam, falam sobre mudanças e estabelecem metas (algumas escrevem-nas, inclusive). Os supersticiosos até arriscam algumas daquelas frívolas simpatias na noite de Réveillon. Uma delas é comer lentilha, sob a alegação de trazer sorte ou riqueza. É possível que essa crendice tenha surgido a partir de uma história do Antigo Testamento, a qual fala sobre Esaú, um homem que trocou seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas e que chegou a ter muitas posses (Gn 25:29-34; 33:9).
Não são crenças cegas que me levam a comer lentilha e tampouco o faço somente na noite da virada. Eu realmente aprecio o sabor e não espero por uma ocasião especial para fazê-lo. Acho que poderia comê-las todos os dias. É curioso pensar que, ao contrário do feijão que é filogeneticamente semelhante (compartilhando a mesma subfamília) e ocupa posição de destaque em nossa culinária cotidiana, na maior parte dos casos a lentilha desperta interesse sazonal. A despeito da similaridade, noto diferença no sabor e elejo com grande vantagem o da lentilha como preferido. Não obstante, creio serem idênticas num quesito: efeitos colaterais. Sinceramente eu duvido que os biólogos, ao classificarem os seres, levem em consideração reações adversas causados pela ingestão, contudo, espero que meu relato possa contribuir para a taxonomia. Há cerca de pouco mais de um mês refleti sobre isso no conforto do meu lar. Eu preparava mais uma sopa e resolvera tentar algo novo (para mim): trocar o macarrão pela lentilha. E deu certo! Na minha opinião, foi um resultado satisfatório levando em consideração que eu nunca havia cozinhado lentilhas (admito que pedi umas dicas para a minha mãe, mas eu fiz tudo sozinho - ela sequer estava em casa para dar o toque mágico no tempero).Na verdade, a iguaria agradou-me bastante e um prato foi pouco para saciar meu apetite. Sim, eu aproveitava o momento com serenidade até ser interrompido por algo que, em função da intensidade e constância, chamarei de "minha despressurização"! Sinceramente eu não sabia que tinha tanto potencial! Fiquei imaginando a quantidade de combustível que fui capaz de gerar e lamentei por tanto desperdício... Pensando bem, com lamúrias eu choraria se resolvessem utilizar um gasoduto para canalizar... Enfim, isso fez-me encarar sob uma nova perspectiva um caso lendário, o qual antes desse episódio eu cria não passar de um mito: o caso da flatulência causada pelo feijão. Desde criança eu ouvia os rumores sobre a ira do feijão, mas nunca havia enfrentado nenhum problema dessa natureza. Na verdade, eu não gostava de feijão na minha infância, aprendendo a comê-lo aos poucos (e em pouca quantidade até hoje). As lentilhas, entretanto, não consumi com o mesmo comedimento do feijão, culminando no efeito tempestuoso que irrompeu deleitoso jantar.
Acredito que eu tinha uma lição a ser aprendida: a sabedoria popular às vezes tem fundamento. E eu gostaria de deixar outra lição com você: lentilha dá gases, não sorte!

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